Toda Prosa!: Contos
Miscelânia de pensamentos, sentimentos e inspirações do meu interior traduzidos em signos para serem compreendidos. Será que os serão....???
...

Contos

Os opostos se completam.

Em um fim de tarde chuvoso como tantos na cidade de São Paulo, Gina entra esbaforida na sala de reuniões, propositalmente sem muita discrição. Fecha seu guarda-chuva portátil vermelho queimado que combina com a cor de suas unhas e o encosta com delicadeza calculada ao lado de um másculo e grande guarda-chuva preto. Sacode os cabelos e em “slow motion” passa a mão pelos braços e pernas para tirar as gotas de água que escorriam.
Confiante após sentir tantos olhares, foca uma cadeira bem na frente, justamente aquela que todos evitam e desfila passos de salto alto cumprimentando com um sorriso á todos com aparente olhar supérfluo que na verdade meticuloso era e enfim chega á seu destino sentando com uma bela cruzada de pernas.
Inicia a fala do terapeuta o qual se apresenta e pede que os presentes façam o mesmo. Ninguém se prontifica e Gina sente um comichão de se levantar mas se controla, assim sendo foi pedido para que um jovem rapaz da última cadeira começasse. Levantou-se com a cabeça baixa como que pudesse se esconder com seus 1,90m de corpo atlético revestidos em uma calça jeans e justa camisa listrada. Esboça uma fala engasgada passando seus longos dedos pelos cabelos e a este ponto hipnotizada Gina já nada escutava... a mão que estava na nuca desliza pelo pescoço e entra discretamente entre os botões da camisa. Procurando um local de apoio os olhos castanhos escuros do rapaz se cruzam com os cor de mel da garota que neste instante desperta do transe desconcertada imaginando sua cara embasbacada e ouve a história já no fim: ...- E com essa timidez acabo deixando de expressar meus sentimentos, de fazer coisas, e assim vivo em arrependimento. E encerrando assim seu discurso se senta com um rosto agora rubro que o enche de encanto.
O seguinte se levanta para falar mas Gina não consegue sair do magnetismo que a atraí incontrolávelmente e assim os minutos passaram como segundos e percebe que chegara a sua vez de falar. Levantando-se um pouco atrapalhada assim como suas palavras que começam á ressoar em alto e bom som pelo ambiente, ela com suas costumeiras gesticulações inicia sincera:
- Boa noite, meu nome é Gina. O que acontece é que sou uma pessoa muito extrovertida. Considero-me feliz, tenho muitos amigos e sou autoconfiante em dizer que atraio muitos homens, mas meus relacionamentos nunca duram, sinto que no fundo por meu jeito um pouco (sendo modesta) espalhafatoso ninguém me leva muito á sério... além disso uma mulher que têm iniciativa acaba amedrontando um pouco o sexo oposto eu acho... e às vezes até as mulheres me interpretam mal... por demonstrar carinho, dar e receber atenção, gostar de brincar,... é só o meu jeito... finaliza a moça.
Encerrado o encontro ela enrola procurando uma oportunidade para se cruzarem e ao vê-lo em direção do guarda-chuva preto agradece a sorte e aperta o passo para também pegar o seu e dando uma de distraída esbarra no rapaz e diz:
- Me desculpe...como é mesmo seu nome?
E ele com seu sorriso de lado mostrando assim as covinhas responde:
-Não por isso... meu nome é Maximus...
-Ah é!... Maximus... que chuva não?!
- Pois é...Gina, certo?(acanhado fazendo que não se lembrava) E justo hoje é dia do meu rodízio... (disse despretensioso o rapaz).
- Não diga! E onde você mora? (feliz da vida por ter uma chance de conhecê-lo melhor...)
- Na Mooca...(percebendo a intenção da pergunta e torcendo por um convite)
- E eu no Tatuapé. É perto... posso te dar uma carona... (diz com o coração acelerado)
- Mas não vai te atrapalhar?... (já ruborizado novamente)
- Muito pelo contrário!... quer dizer (medindo as palavras), não gosto de dirigir á noite sozinha... você sabe como é essa cidade...(querendo se passar por indefesa)
- É, realmente...(com a voz quase sumindo), ainda mais uma moça bonita como você...
Gina sorriu vaidosa e correndo juntos entraram no carro dando risadas juvenis. Ela liga o aquecedor e o som do carro enquanto se ajeita elegantemente e classuda.
E assim seguem conversando e brincando um jogo de sedução, querendo esconder e demonstrar ao mesmo tempo o interesse e atração mútua.
Como sempre nessas horas não há trânsito, nem farol fechado que dificultem o caminho e em uma infeliz rapidez vão chegando ao seu destino.
Gina troca seu pé de chumbo por leve toque de dama fazendo assim o velocímetro estacionar nos 30 km/h. Mas enfim, chegam em frente ao prédio do rapaz e emudecem.
O silêncio constrangedor se quebra quando os dois falam ao mesmo tempo:
-Adorei te conhecer/ -Você é muito bacana...
Entre risos nervosos a cena se repete e juntos dizem:
-Me passa seu e-mail?/ -Você tem orkut?
E Gina diz com a voz trêmula assim como suas mãos que vai anotar para ele pegando um bloco de notas no porta-luvas o que faz se reclinar sobre Maximus, agora realmente sem premeditação. Ele sente um impulso de pegá-la em seus braços com uma doçura-cautelosa em conjunto com uma firmeza-despudorada, mas mais uma vez se vê paralisado. Sem jeito como uma menina inexperiente, estranhando seu súbito e desconhecido até então acanhamento ela rapidamente escreve seu endereço virtual e entrega o papel nas mãos dele as tocando levemente esperando com isso incentivá-lo a tomar uma iniciativa, mas simplesmente o coloca no bolso e abrindo a porta do carro agradece e sai. Desapontada fica parada por um instante quando percebe o guarda-chuva esquecido e se alegra por ter uma desculpa para reencontrá-lo. De repente com um susto seu coração acelera novamente ao escutar alguém batendo no vidro do carro, medrosamente passa a mão para tirar o embaçado e pelas transparências que se formam vê que ele havia voltado todo ensopado com certeza para pegar o objeto, pensou ela, e mais que depressa abriu a janela e escutou ele gritando meio ás trovoadas: Esqueci uma coisa... e ela pegando o guarda chuva diz : A é... o guarda-chuva! E então surpreendentemente ele segura seu rosto com suas duas mãos molhadas e geladas as quais a faz sentir o toque com uma nitidez nunca sentida, olha bem fundo em seus olhos e diz: Não é isso... e bem devagar vai se aproximando querendo que aquele momento durasse eternamente e encosta seus lábios junto aos dela num beijo de inicial ternura que foi se transformando em loucura, com a sede de sugar e liberar toda a paixão da carne e todo o amor da alma.
E hoje a extrovertida e o introvertido se completam.
Ela é amada e respeitada do jeito que é.
Ele encontrou a força que faltava para ter coragem, a força do amor.

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Mas... afinal...

O que é Prosa???

Prosa-1 Forma de dizer ou de escrever sem sujeição a medida certa ou acentuação determinada. 3 Facilidade em falar. 4 Conversa, palestra. 5 pop Lábia. 8 adj Diz-se da pessoa fanfarrona, vaidosa, cheia de si. s m+f Essa pessoa. Ser uma boa prosa: ter conversa agradável.


Prosador-1 Aquele que escreve em prosa. 2 Escritor que faz boa prosa.


Prosear-1 Conversar, falar muito, tagarelar. 2 Falar fiado; gabar-se.


Proseador-Que, ou o que proseia.



Contando...

Sigam-me os bons!


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